quarta-feira, 24 de março de 2010

O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa em Timor-Leste

Nuno Almeida

Ainda sobre o Acordo Ortográfico: foi no dia 30 de Março do passado ano que o Parlamento Nacional de Timor-Leste aprovou, para adesão, o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em 1990. Coloco aqui, caso queiram descarregar, a edição em pdf do Jornal da República, Série I, nº 17, de 6 de Maio de 2009, onde foram publicadas três resoluções do PN relacionadas com o Acordo Ortográfico:

• Resolução do Parlamento Nacional nº 14/2009, de 6 de Maio
“Aprova, para Adesão, o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa entre os Estados Membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa”.
Esta resolução prevê a continuação do uso do hífen na grafia oficial do nome “Timor-Leste” (que passa a ser uma excepção). Também inclui, em anexo, o texto integral do Acordo Ortográfico.

• Resolução do Parlamento Nacional nº 18/2009, de 6 de Maio de 2009
“Aprova, para Adesão, o Segundo Protocolo Modificativo ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa entre os Estados Membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa”.
É este Segundo Protocolo Modificativo, assinado em São Tomé, em Julho de 2004, que prevê a adesão da República Democrática de Timor-Leste.

• Resolução do Parlamento Nacional nº 19/2009, de 6 de Maio de 2009
“Aprova, para Adesão, o Protocolo Modificativo ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa entre os Estados Membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa”.

Já sabemos que está aprovado em Timor-Leste. Falta saber para quando se prevê o início da sua aplicação.

Para descarregar, cliquem na miniatura.




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quarta-feira, 17 de março de 2010

Declaração Universal dos Direitos Linguísticos

Para quem ainda não conhece a Declaração Universal dos Direitos Linguísticos, fica aqui o link para a versão portuguesa original on-line no P.E.N. Clube Português (não dá para descarregar o texto – só para consultar). Se quiserem descarregar o texto completo, usem a miniatura abaixo – é uma edição em pdf da Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos (do Brasil) que mantém, contudo, a tradução original para português feita pelo P.E.N. Clube Português.

Porque somos professores de língua, este é um ‘clássico’ obrigatório. Não deixem de ler e de reflectir no significado e, sobretudo, nas implicações deste texto (a ser levado a sério pelos governos), seja em Portugal ou em Timor-Leste. E, já agora, qual o nosso papel na implementação destes direitos universais?




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domingo, 14 de março de 2010

Preservação de Subsistemas Gramaticais do Português em Timor-Leste Ocupado

Maria José Albarran de Carvalho

Envio artigo publicado na «Veritas», revista tri-semestral da UNTL, em 2005, no qual defendo após itinerário de dados linguísticos, que a juventude não está assim tão fora de subsistemas do português como afirma e se desencoraja, pois não há perda completa de contacto com o género-número, preposicionamento e acordo verbal como se diz. Trata-se de trabalho mais para docentes, poder-se-á planificar actividades em aula, a partir do nome de cada um, por exemplo, para demonstrar as evidências de que nele me ocupo, animando os mais vencidos pelas dificuldades - fi-lo numa palestra e o resultado foi óptimo.

“O presente estudo de itens gramaticais soltos mais não pretende ser que a mera enumeração de notas relativas a comprovada interiorização de subsistemas do português ao longo da ocupação indonésia. Tais apontamentos provam a persistência de contacto nuclear com esta língua, hoje co-oficial, em áreas identitárias do povo timorense numa história a longo prazo, o passado da colonização portuguesa, e a curto, com destaque particular para a sua manutenção mesmo durante os últimos 30 anos, pesem embora as duríssimas proibições finais das então forças dominadoras do anterior regime indonésio. Argumentos objectivos e prospectivos incidem também sobre um futuro próximo”.

Descarreguem o artigo completo aqui em baixo.




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Acordo Ortográfico: Guia Prático

Fátima Marques

Embora ainda estejamos no período de transição, é melhor começarmos a fazer a preparação para a nova escrita...

Vejam aqui a apresentação PowerPoint – um guia para a nova grafia do Português, com as principais alterações.

ORTOGRAFIA_ACORDO.pps


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sábado, 13 de março de 2010

Actividade: texto instrucional

Nuno Almeida

Partilho convosco mais uma actividade. Desta vez tratava-se de trabalhar o texto instrucional. Num primeiro momento, começámos por compreender um conjunto de instruções; depois, experimentámos seguir essas mesmas instruções; por último, decidimos produzir um texto instrucional.

Para começar, consultámos as “Instruções para instalar o dicionário de Tétum”, uma das secções do “Guia de Estilo da RDTL”, um documento ainda não oficializado que irá regular a produção escrita em toda a Administração Pública em Timor-Leste. Se descarregarem este documento (abaixo), verificarão que o texto é fértil no uso de Imperativo. Neste primeiro momento, tentámos interpretar o texto e identificar particularmente as palavras que tinham a função de exigir algum tipo de acção por parte do leitor. Não foi muito difícil. É claro que aproveitámos para as registar no quadro e verificar as diferentes terminações, de onde se partiu para a explicitação da regra e verificação das irregularidades.

Depois, porque temos um PC na sala (sim, somos privilegiados), experimentámos a instalação do referido Dicionário Electrónico de Tétum, seguindo o texto passo a passo. Para tal, usámos um projector, para que todos fossem acompanhando a evolução da actividade, e, enquanto um dos elementos da turma ia lendo as instruções, outro ia fazendo o que era pedido. Convém dizer que houve algumas dúvidas neste momento prático, que foram sendo resolvidas em grande grupo. Devo referir, contudo, que não foi necessária a intervenção do professor. Já agora, se quiserem o dicionário electrónico de tétum para disponibilizar aos formandos, mandem-nos um mail.

Num último momento, foi pedido aos aprendentes (em trabalho de pares) que produzissem um texto instrucional. As instruções deveriam ter alguma utilidade prática para os cidadãos timorenses. Para dar uma ideia dos resultados, surgiram textos como: instruções para a obtenção do passaporte, para tirar a carta de condução, para importar um veículo, para abrir uma conta no Gmail... Foi então pedido a um dos autores que lesse o seu texto aos colegas.

Seleccionei um dos textos produzidos para divulgar aqui. Gostei particularmente deste, pois não apresenta desvios de maior e conseguiu usar na perfeição algumas instruções com pronome reflexo, tal como no modelo (“lembre-se”, “certifique-se”). O que ouvimos é a leitura do texto, ainda sem qualquer correcção.






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Língua Portuguesa e Cultura em Timor-Leste

Nuno Almeida

O facto de, num país onde convivem comunidades linguísticas diversas, ser atribuído o estatuto de língua oficial a determinada língua é um factor incontornável de mudança da cultura comum às várias comunidades, que passam a ter interesse e necessidade de aprender e usar essa mesma língua, que, de outra forma, não faria parte do seu repertório linguístico. No caso de Timor-Leste, em que a língua portuguesa é uma língua verdadeiramente importada, ou seja, que não teve a sua origem em nenhuma das comunidades linguísticas nacionais nem tem, no momento em que é considerada língua oficial, qualquer espaço visível de uso dentro das fronteiras políticas ou sequer próximo destas, a sua contribuição para a mudança cultural será porventura mais acentuada. Para mais, o meio encontrado pelas instâncias governativas para, a curto prazo, concretizar o ensino da língua oficial a professores, funcionários públicos e governantes, iniciando assim a sua difusão nacional, foi recorrer maioritariamente a professores portugueses, que, por serem falantes de língua portuguesa, darão a garantia de um bom trabalho, mas que, por pertencerem a outra cultura, poderão ser, também eles próprios, agentes da mudança cultural.

Neste texto, mostra-se a profundidade da relação entre “língua” e “cultura”, observa-se o contexto Timor-Leste à luz desta relação e fazem-se algumas reflexões pertinentes. É importante não dissociar as questões linguísticas das questões culturais, mas o que é certo é que não se reflecte muitas vezes sobre estas matérias. Trata-se de mais um contributo para uma actuação consciente.

O artigo completo está disponível para download aqui em baixo.




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sexta-feira, 12 de março de 2010

Porquê a língua portuguesa em Timor-Leste

Nuno Almeida

No contexto da integração de Timor-Leste no mundo da Lusofonia, importa reflectir acerca das vantagens e desvantagens da opção pelo português como língua co-oficial e das questões que tal decisão levanta. Num tempo em que as decisões já foram tomadas mas em que parece ainda haver, entre os agentes nacionais e internacionais, dúvidas relativamente ao caminho a trilhar, é com o intento de divulgar uma opinião conhecedora da realidade linguística e cultural de Timor-Leste, que tomo a liberdade de publicar neste blog alguns excertos da comunicação de Geoffrey Hull, linguista, professor da Universidade de Western Sydney, Austrália, dirigida ao Congresso Nacional, em 2001. Um documento esclarecido e esclarecedor.

Descarreguem o texto integral aqui em baixo.




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terça-feira, 9 de março de 2010

LUSOFONIA – Paráfrase do artigo do Prof. Fernando Cristóvão no Dicionário Temático da Lusofonia

Nuno Almeida

Para uma definição do conceito de “Lusofonia”, do seu aparecimento e evolução ao longo dos tempos; para uma melhor percepção do âmbito deste conceito e da sua ligação com as questões de ensino da língua portuguesa.
Descarreguem o texto completo abaixo.




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Conjugadores de verbos na net

Por sugestão de um formando (Francisco Soares de Jesus), a quem agradecemos, aqui ficam os links para dois conjugadores de verbos na net. Muito útil para os nossos formandos que têm accesso à net.

Conjuga-me.net

LX-Conjugator

Timor Lorosa'e: A Ilha do Sol Nascente


Carlos Severino

O texto de João Pedro Mésseder, "Timor Lorosa'e: A Ilha do Sol Nascente", com ilustrações de André Letria, é um material que, no meu caso, serviu para abordar um momento da história de Timor-Leste, sem grande rigor histórico, com formandos de nível inicial.
Sendo direccionado para crianças, é de fácil compreensão e permitiu que os formandos, através da ordenação das ilustrações seleccionadas contassem uma história e praticassem a oralidade.



O texto está organizado com miniaturas das ilustrações e pode ser descarregado aqui em baixo; as ilustrações per se podem-se disponibilizar a quem ainda não tenha o texto.




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segunda-feira, 8 de março de 2010

Manuais didácticos para ensino do Português em Timor-Leste: para uma reflexão metódica (dissertação de Ana Sofia dos Santos)

Um trabalho científico sobre o método "Português em Timor" e a influência do Tétum na aprendizagem do Português (com a curiosidade e a vantagem de ser obra de uma professora com experiência de ensino em Timor-Leste).

Descarregue aqui a tese completa.


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domingo, 7 de março de 2010

Tirar partido do Tétum

Leonel Lopes

Qualquer falante de língua portuguesa, logo no seu primeiro contacto com o tétum, toma consciência das semelhanças lexicais entre as duas línguas pois é grande o número de lusismos usados pelos falantes de tétum. Ora no ensino da língua portuguesa em Timor, embora as diferenças a nível da sintaxe, como seja a flexão e daí a dificuldade dos aprendentes de língua portuguesa timorenses em associar algumas palavras flexionadas, deve-se tirar partido das semelhanças lexicais.
Sugiro dois exemplos, um de carácter ortográfico e outro na perspectiva da formação de palavras.
Há um sem número de vocábulos que em tétum se grafam com a terminação –saun que não são mais que os vocábulos portugueses que terminam em –ção. Isto percebe-se porque a passagem da oralidade para a escrita foi feita numa base fonética. Assim os vocábulos como nasaun, situasaun, repartisaun, edukasaun, kooperasaun, etc. grafam-se em português nação, situação, repartição, educação, cooperação, etc.
Na perspectiva da formação de palavras os aprendentes timorenses apresentam algumas dificuldades em saber o significado de vocábulos como descontente quando sabem o significado de contente, de incerteza quando conhecem o vocábulo certeza, ou seja de palavras formadas por prefixação. Ressalvo aqui estes dois prefixos in- e des- por terem semelhanças com o advérbio de negação tétum la que também funciona como uma espécie de prefixo com o mesmo significado de negação que os prefixos portugueses in- e des-. Repare-se nos vocábulos tétum: lalika, labarak, ladi’ak, laki’ik, lakmanek e lasusar que são formados com o advérbio de negação la, que funciona como prefixo de negação. Assim lalika (não é preciso) é o antónimo de lika (é preciso); labarak (pouco) é o antónimo de barak (muito); ladi’ak (mal) é o antónimo de di’ak (bem); laki’ik (grande) é o antónimo de ki’ik (pequeno); lakmanek (mal) é o antónimo de kmanek (bem); e lasusar (fácil) é o antónimo de susar (dificuldade).


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A situação da LP na Guiné-Bissau

Leiam este texto sobre o ensino da língua portuguesa no ensino superior, na Guiné-Bissau. É uma espécie de desabafo da responsável pelo Centro de Língua Portuguesa em Bissau. Não é preciso reflectir muito para encontrar semelhanças com o que por cá encontramos.

Texto completo aqui


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ATL Arco-Íris: Conheçam-nos melhor!

Cláudia Taveira e José Monteiro

Sabemos que, em Timor, há ainda muito caminho a percorrer no que concerne ao desenvolvimento integral das crianças e à difusão da língua portuguesa. Queremos, por isso, que o nosso «Arco-Íris» faça a diferença para 40 meninos e que sirva de ponto de partida para outras iniciativas em prol das crianças timorenses. Estamos a trabalhar para que o «Arco-Íris» não se converta num projecto no qual se faz investimento e onde restam apenas o pó dos livros e uma placa…

Para conhecer melhor este projecto, leiam o texto e vejam os vídeos em baixo.

Contactos: Cláudia Taveira (claudiataveira2@hotmail.com) e José Monteiro (jos-monteiro@hotmail.com)








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Actividade: apresentação oral das funções exercidas por outro.

Nuno Almeida

Partilho aqui um exemplo de actividade realizada com funcionários da administração pública. Esta actividade consistiu basicamente em apresentar oralmente informação escrita constante de um formulário. O que a motivou foi o clássico problema em perceber a diferença entre um verbo e um nome. Não se trata de metalinguagem, refiro-me à dificuldade que muitos certamente já experimentaram ao explicar a diferença entre “recolha” e “recolher”.

Nas anteriores sessões de formação, cada aprendente tinha preenchido a Ficha de Auto-avaliação do Desempenho, documento em língua portuguesa, de preenchimento obrigatório no âmbito da avaliação do desempenho dos funcionários da administração pública. Um dos campos era “Funções exercidas durante o período em avaliação”. Para o preenchimento deste campo, optámos por escrever, em primeiro lugar, o título da função principal e, depois, enumerar algumas actividades regularmente levadas a cabo no ano anterior (agora avaliado). Para a enumeração das funções, os aprendentes tinham de treinar a nominalização de verbos (exemplos: [elaborar – elaboração de], [analisar – análise de], [recolher – recolha de]).

Nesta actividade, tinham agora de apresentar oralmente a informação registada no campo “ Funções exercidas” a partir da observação da ficha de um colega. Isso implicava a descodificação dos nomes, a sua transformação em verbos flexionados no Pretérito Perfeito e a eliminação da preposição (exemplo: [elaboração de relatórios – elaborou relatórios]). Além disto, para que o resultado fosse uma produção oral aceitável, tinham de usar o verbo “ser” para introduzir a função principal do colega e de usar conectores para ligar as várias actividades exercidas. Foram sugeridos os seguintes conectores: “e”, “também”, “(para) além disso”, “por último”. Em alguns casos, em que o nome se encontrava qualificado por um adjectivo, foi necessário transformar esse adjectivo em advérbio de modo.

O exercício revestia-se de uma considerável dificuldade, pois os formandos, apesar de terem tempo para preparar a sua apresentação, enquanto estavam a apresentar as funções do colega, só tinham acesso à ficha de auto-avaliação deste. Estar a ler “organização de…” e dizer “organizou…” implica compreender com segurança o significado de “organização”, relacioná-lo automaticamente com o verbo “organizar”, aceder rapidamente à forma correcta do verbo e ainda lembrar-se de retirar a preposição “de”, já para não falar do uso dos conectores propostos.

As gravações que apresento são representativas dos resultados obtidos e mostram a primeira tentativa de dois formandos. Nesta fase, não houve nenhuma produção completamente livre de desvios. Em momento posterior, ouvimos as produções com mais desvios e os próprios aprendentes detectaram facilmente os erros, fazendo propostas de correcção. A actividade foi altamente produtiva, pois, através do uso, contribuiu para fixar correspondências entre alguns nomes e verbos usados no domínio profissional dos aprendentes (para não me alongar sobre o que representou em termos pragmáticos de apresentação da mesma informação em contextos diferentes ou em termos de adaptação da estrutura sintáctica). Ao mesmo tempo, reforçou a automatização da flexão verbal e do uso de conectores.






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sábado, 6 de março de 2010

Dicionário Tétum-Português-Indonésio

Carlos Severino

Um óptimo auxiliar tanto para os formandos como para os professores. Descarreguem o texto completo em baixo.




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Língua Portuguesa em Timor-Leste: Aquisição Vs. Aprendizagem, Necessidades e Ensino Comunicativo

Nuno Almeida

Num artigo que observa a realidade timorense à luz de alguns conceitos da didáctica de línguas não maternas, faz-se a distinção entre os termos “aquisição” e “aprendizagem” para dizer que, no caso de Timor-Leste, o que acontece é uma aprendizagem da língua portuguesa. Assumindo esta posição, chama-se a atenção para algumas implicações práticas a ter em conta na nossa actividade enquanto professores de LP em Timor-Leste, mostrando-se ainda a importância de observar as necessidades dos aprendentes, o que justifica uma abordagem comunicativa do ensino do português neste país.

Descarreguem o texto completo em baixo.




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Conhecer o Tétum para ensinar Português

Carlos Ferreira

As correntes pedagógico-didácticas contemporâneas ligadas ao ensino aprendizagem das línguas parecem valorizar cada vez mais o fenómeno da intercompreensão relativamente aos processos de aquisição de saberes e competências. Pois bem, a intercompreensão não é mais do que a mobilização de conhecimentos e aptidões que o aprendente possui e que, através de diversos mecanismos psicológicos, sociológicos e linguísticos, lhe permite construir novas aprendizagens, um construtivismo, portanto, que não partindo do nada, assenta já em fundações mais ou menos consolidadas.

É um facto que entre o Tétum e o Português há algumas semelhanças e muitíssimas disparidades. Se por um lado as afinidades, sobretudo de ordem lexical, são uma mais-valia para quem aprende ou mesmo ensina a Língua Portuguesa, por outro, as diferenças, relacionadas principalmente com a sintaxe, constituem-se como um sério obstáculo à proficiência na referida língua.

Mesmo aqueles que não defendem o estatuto oficial da Língua Portuguesa em Timor-Leste, terão que reconhecer que o surgimento de novas realidades e de novos referentes tem exigido, ao Tétum, uma expansão lexical bastante considerada, ampliação, essa, conseguida em grande parte pelo recurso ao Português. Pois bem, pode ver-se esta crescente proximidade vocabular como um bom aliado no processo de ensino-aprendizagem da língua lusa.

Como é sabido, o Português, à semelhança das demais línguas latinas, é uma língua de extrema complexidade sintáctica. Este factor é de uma relevância fundamental no contexto específico de Timor-Leste, uma vez que as línguas maternas e línguas segundas, dominadas desde o berço pelos timorenses, são idiomas caracterizados por uma grande elementaridade estrutural e linguística. Pois bem, esse distanciamento gramatical, existente entre língua consolidada e língua a adquirir, será um obstáculo à construção dos processos de correspondência entre as duas línguas, dificultando, portanto, o processo da intercompreensão.

Salvo excepção feita ao Tétum Térik e outros casos que eventualmente desconheceremos, tanto o Tétum Praça – Língua Oficial – como grande parte dos dialectos utilizados para comunicar, em primeira instância, são meios de uma grande simplicidade gramatical em que não se verifica, por exemplo, flexão verbal em modo, tempo ou pessoa. O mesmo acontece relativamente à inexistência de variação em grau, género e número. Sabemos, também, que os referentes temporais são feitos exclusivamente com recurso às expressões temporais, não havendo, portanto, a necessidade de se proceder a alterações do verbo em si. Pois bem, o que pensará um aprendente de um nível inicial de Português ao saber que para nos referirmos ao Passado podemos mobilizar vários tempos verbais, cuja utilização será sempre criteriosa e não arbitrária.

Não se pretende um levantamento exaustivo dos aspectos gramaticais que distinguem as duas línguas. Importa, contudo, enfatizar que a tomada de consciência relativamente a essas diferenças contribuirá para uma eliminação precoce dos principais entraves ao processo de ensino-aprendizagem e, consequentemente, a uma proficiência mais rápida e efectiva em Língua Portuguesa.


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