domingo, 7 de março de 2010

Actividade: apresentação oral das funções exercidas por outro.

Nuno Almeida

Partilho aqui um exemplo de actividade realizada com funcionários da administração pública. Esta actividade consistiu basicamente em apresentar oralmente informação escrita constante de um formulário. O que a motivou foi o clássico problema em perceber a diferença entre um verbo e um nome. Não se trata de metalinguagem, refiro-me à dificuldade que muitos certamente já experimentaram ao explicar a diferença entre “recolha” e “recolher”.

Nas anteriores sessões de formação, cada aprendente tinha preenchido a Ficha de Auto-avaliação do Desempenho, documento em língua portuguesa, de preenchimento obrigatório no âmbito da avaliação do desempenho dos funcionários da administração pública. Um dos campos era “Funções exercidas durante o período em avaliação”. Para o preenchimento deste campo, optámos por escrever, em primeiro lugar, o título da função principal e, depois, enumerar algumas actividades regularmente levadas a cabo no ano anterior (agora avaliado). Para a enumeração das funções, os aprendentes tinham de treinar a nominalização de verbos (exemplos: [elaborar – elaboração de], [analisar – análise de], [recolher – recolha de]).

Nesta actividade, tinham agora de apresentar oralmente a informação registada no campo “ Funções exercidas” a partir da observação da ficha de um colega. Isso implicava a descodificação dos nomes, a sua transformação em verbos flexionados no Pretérito Perfeito e a eliminação da preposição (exemplo: [elaboração de relatórios – elaborou relatórios]). Além disto, para que o resultado fosse uma produção oral aceitável, tinham de usar o verbo “ser” para introduzir a função principal do colega e de usar conectores para ligar as várias actividades exercidas. Foram sugeridos os seguintes conectores: “e”, “também”, “(para) além disso”, “por último”. Em alguns casos, em que o nome se encontrava qualificado por um adjectivo, foi necessário transformar esse adjectivo em advérbio de modo.

O exercício revestia-se de uma considerável dificuldade, pois os formandos, apesar de terem tempo para preparar a sua apresentação, enquanto estavam a apresentar as funções do colega, só tinham acesso à ficha de auto-avaliação deste. Estar a ler “organização de…” e dizer “organizou…” implica compreender com segurança o significado de “organização”, relacioná-lo automaticamente com o verbo “organizar”, aceder rapidamente à forma correcta do verbo e ainda lembrar-se de retirar a preposição “de”, já para não falar do uso dos conectores propostos.

As gravações que apresento são representativas dos resultados obtidos e mostram a primeira tentativa de dois formandos. Nesta fase, não houve nenhuma produção completamente livre de desvios. Em momento posterior, ouvimos as produções com mais desvios e os próprios aprendentes detectaram facilmente os erros, fazendo propostas de correcção. A actividade foi altamente produtiva, pois, através do uso, contribuiu para fixar correspondências entre alguns nomes e verbos usados no domínio profissional dos aprendentes (para não me alongar sobre o que representou em termos pragmáticos de apresentação da mesma informação em contextos diferentes ou em termos de adaptação da estrutura sintáctica). Ao mesmo tempo, reforçou a automatização da flexão verbal e do uso de conectores.






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