domingo, 7 de março de 2010

Tirar partido do Tétum

Leonel Lopes

Qualquer falante de língua portuguesa, logo no seu primeiro contacto com o tétum, toma consciência das semelhanças lexicais entre as duas línguas pois é grande o número de lusismos usados pelos falantes de tétum. Ora no ensino da língua portuguesa em Timor, embora as diferenças a nível da sintaxe, como seja a flexão e daí a dificuldade dos aprendentes de língua portuguesa timorenses em associar algumas palavras flexionadas, deve-se tirar partido das semelhanças lexicais.
Sugiro dois exemplos, um de carácter ortográfico e outro na perspectiva da formação de palavras.
Há um sem número de vocábulos que em tétum se grafam com a terminação –saun que não são mais que os vocábulos portugueses que terminam em –ção. Isto percebe-se porque a passagem da oralidade para a escrita foi feita numa base fonética. Assim os vocábulos como nasaun, situasaun, repartisaun, edukasaun, kooperasaun, etc. grafam-se em português nação, situação, repartição, educação, cooperação, etc.
Na perspectiva da formação de palavras os aprendentes timorenses apresentam algumas dificuldades em saber o significado de vocábulos como descontente quando sabem o significado de contente, de incerteza quando conhecem o vocábulo certeza, ou seja de palavras formadas por prefixação. Ressalvo aqui estes dois prefixos in- e des- por terem semelhanças com o advérbio de negação tétum la que também funciona como uma espécie de prefixo com o mesmo significado de negação que os prefixos portugueses in- e des-. Repare-se nos vocábulos tétum: lalika, labarak, ladi’ak, laki’ik, lakmanek e lasusar que são formados com o advérbio de negação la, que funciona como prefixo de negação. Assim lalika (não é preciso) é o antónimo de lika (é preciso); labarak (pouco) é o antónimo de barak (muito); ladi’ak (mal) é o antónimo de di’ak (bem); laki’ik (grande) é o antónimo de ki’ik (pequeno); lakmanek (mal) é o antónimo de kmanek (bem); e lasusar (fácil) é o antónimo de susar (dificuldade).


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1 comentário:

Unknown disse...

Primeiro deixe-me dizer que considero muito interessante a ideia de utilizar uma aproximação entre as duas línguas no ensino. Mas os exemplos de antónimos que apresenta não está correcta, o prefixo negativo "la" não é obrigatoriamente formador de antónimos.
os pares de antónimos dos seus exemplos são:
lalika/ tenki
barak/uit
di'ak/aat
ki'ik/boot
a utilização do prefixo "la" unicamente cria formas negativas ( fenomeno derivado da não realização do verbo ser em Tetum)da mesma forma que em portugues "não é muito/labarak" não é o antónimo de "muito/barak" ou "não é bom/ladi'ak" não é antonimo de "bom/di'ak"